sábado, 1 de março de 2014

Traição

 Venho-me apercebendo que recebi umas tantas opiniões falsas como sendo verdadeiras e de que aquilo que desde então fundei sobre princípios tão mal assegurados só podia ser muito duvidoso e incerto; de modo que é necessário eu desfazer-me de todas as opiniões que havia recebido e formado até então na minha crença, e recomeçar tudo de novo a partir de novos fundamentos. Aplicar-me-ei seriamente e com toda a liberdade a destruir genericamente todas as minhas antigas opiniões. Ciente, que o desmoronamento dos fundamentos acarreta necessariamente o resto do edifício, começarei por atacar os princípios em que todas as minhas antigas opiniões se apoiavam. Fica uma certeza: os sentidos são enganadores e é do domínio da prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez. Todavia, embora os sentidos por vezes nos enganem, no tocante a coisas pouco sensíveis e bastante afastadas encontram-se porventura muitas outras de que não se pode razoavelmente duvidar, embora conheçamos pelo seu meio. 

 Com o receio de um dia deixar ser dominado pelo cérebro perturbado e ofuscado que continuamente nos assegura que somos reis, quando na verdade, somos paupérrimos. Pensando com cuidado, muitas das vezes concluo que fui enganado, enquanto sonhava, por nefastas ilusões. Absorvo-me neste pensamento, e vejo tão manifestamente que não há indícios conclusivos que me permitam distinguir a realidade social da suposta realidade criada pela minha razão. É talvez o maior dos perigos de ter uma imaginação extravagante, bizarra e independente. Com ela deixamos de fazer uma corriqueira compilação e conjugação de elementos para começarmos a inventar qualquer coisa tão nova que nunca vimos nada igual. Algo que nos persuade e nos faz acreditar nisso..

domingo, 2 de fevereiro de 2014

A Beleza que não tem fim



 As paisagens grandiosas dão-nos a sensação de elevação, de estarmos ligados a uma ordem sagrada e omniabrangente. Enquanto somos invadido por todo um outro conjunto de sensações como o da submissão à grandiosidade.

A natureza atrai-nos porque está em sintonia com os nossos sentimentos, podendo reflectir e intensificar os que já experimentamos ou mesmo despertar os que estão dormentes. À semelhança da música a natureza apazigua-nos a alma; permite evocar e fortalecer o que melhor temos. Revela-se uma antecâmara da religião. É nestes momentos de contemplação, que apreendemos as doutrinas filosóficas estóicas e nos apercebemos afinal, que o Homem veio à terra para ser feliz. É o momento em que o homem se torna sábio e obedece à lei natural.


"Se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre" - Sêneca


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Lanterna Mágica

  Os movimentos artísticos/intelectuais cibernáuticos crescem a um ritmo completamente alucinante a cada dia que passa. E como eu sou um individuo que gosta de integrar este tipo de movimentos de massa (talvez numa busca exaustiva de atenção) decidi dar o meu contributo cultural.
Embora este seja um post com alto teor de pretensão, prometo que após a sua leitora o leitor talvez se sinta mais instruído. Ou talvez não… muito provavelmente será invadido por uma súbita vontade de me agredir com um auxílio de um pau.
  Mas, sem mais demoras e rodeios introdutórios vamos dar início à resenha propriamente dita. Hoje falar-vos-ei de cinema. Inicialmente gostaria de frisar alguns pontos: eu não sou nenhum cinéfilo purista – sou antes, um enorme fã e seguidor da sétima arte – nada mais que isso, portanto muito do que aqui for exposto resultou de um pequeno trabalho de pesquisa alimentado pela minha curiosidade e interesse para com o mundo cinéfilo.

  Sempre que se ouve falar em cinema vêm-nos indubitavelmente vários nomes à cabeça, como: Jean-Luc Godard, Ingmar Bergman, ou mesmo os irmãos Auguste e Louis Lumière. Nomes que marcaram toda a história do cinema, nomes que alteraram paradigmas, nomes que se não existissem também não existiria o cinema tal como o vemos hoje confortavelmente em casa ou numa sala na companhia de umas pipocas. Se por um lado temos o influente e genial cineasta Ingmar Bergman, um dos mais brilhantes do pós-guerra, o Homem do teatro que transpõe para o grande ecrã a nobre tradição da dramaturgia nórdica, por outro lado, temos o Godard. Um dos principais nomes do movimento vanguardista Nouvelle Vague. No meio disto é-nos impossível deixar de parte tudo os irmão Lumière, “os pais do cinema”, os inventores do cinematografe.
  É exactamente sobre estes dois que eu me quero debruçar aqui hoje. Muitas das vezes as pessoas incorrem no erro de pensar que estes foram os criadores do cinema.. Ora, o possível criador do cinema foi um sábio jesuíta de nome “Kircher”. Este foi o inventor da Lanterna Mágica ou Lanterna ótica em meados o século XVII, que é nada mais, nada menos, que o antepassado do projector cinematográfico. Nascido na Grécia Athanasius Kircher foi um célebre homem de grandes conhecimentos, com estudos e investigações nos mais diversos campos. Tendo sido um dos primeiros a tentar decifrar os hieróglifos egípcios. No campo das invenções e das descobertas Leonardo da Vinci, foi de facto, um elemento importantíssimo pois este já tinha imaginado uma lanterna de lente convexa, que foi o passo preponderante para a história da projecção de imagens. Há até quem assegure que o princípio da Lanterna Mágica já havia sido descoberta por Roger Bacon, um padre franciscano morto em 1294. Com excepção da Lanterna Mágica, que veio com sucessivos aperfeiçoamentos e mais do que uma utilização até finais do século XIX, as obras de Kircher foram ofuscadas pelos trabalhos científicos de Leibniz, de Newton, de Descartes, de Huygens, de Pascal, de Galileu e outros, como era óbvio.
  O funcionamento desta só se deu no fim do século XVII, em que Johannes Zahn interessou-se pela lanterna mágica de Kircher e não só criou um novo modelo, mais aperfeiçoada, como chegou a estabelecer o princípio da combinação do projector e de uma fita desenhada, principio que não pôs em prática e só muito mais tarde viria a ser aplicado por Émile Reynaud.






Portanto, podem já fazer o favor de anotar o nome Kircher pois de facto este foi um elemento essencial para a criação do cinema que não merece o esquecimento.