domingo, 26 de maio de 2013

Métricas do número 42 que se acha irregular...




































Quando me deito sobre o chão da terra 
E mergulho o olhar no imenso céu azul,
Eu sou uma ilha, e nessa fronteira me limito,
Ainda que morrendo à fome de infinito.

Comove-me a placidez de tudo o que existe...
Este ténue silêncio das coisas do mundo,
Cheio de estático sabor desconhecido!

Para além do nosso universo existem muitos mais
Esta lonjura que eu vejo diviniza-me,
Há qualquer coisa de infinito no que penso
Que bem pode ser aquilo que não alcanço...

Por todo o lado brota exuberante a ordem.
As causas servem de escadas para tudo...
São elas que nos mostram a realidade.

A nostalgia de um mundo remoto e longínquo,
tem na corrente águas límpidas de inocência
Na Procura do pouco crescimento e complacência...
A sua beleza inverte os sentidos à compreensão

Talvez para sempre será a avidez de digerir o mundo...

"Sociedade" o cliché que é giro "clichar"

    Vivemos numa sociedade disfuncional e fictícia... Uma sociedade investida de felicidade irreal, camuflada de aposentos. Andamos a fingir a felicidade adquirindo bens materiais.... Porquê? São mais fáceis de alcançar, não é preciso dar uso à intelectualidade, não é necessário fomentar relações, não é preciso rever escolhas e reconhecer equívocos, não é necessário uma identidade, uma personalidade, não é necessário romper paradigmas sociais... basta escolher o bem, pagar e sair calado... Enquanto um sentimento de felicidade, realização e confiança nos agiganta o ego com adornos gélidos que pouco acrescentam à verdadeira felicidade, sentimento apimentado pela refinada vitamina fútil.
    Chegam a existir pessoas neste mundo tão pobres... Mas tão pobres que a única coisa que têm na sua posse é dinheiro.
    Uns aumentam o volume da TV para que nada ameace o frágil equilíbrio disfuncional doméstico. Outros preferem viver no medo, na dúvida, medo de serem julgados aos olhos de uma sociedade doente... Medo de não conseguirem atingir o estereótipo que a sociedade exige de si. Outros vivem atormentados porque  deixam que o dinheiro corrompa o seu amor a um ofício que ambicionam desde criança. São forçados a seguir caminhos que os acabam por levar a uma rua sem saída... Nesse momento entram em desespero, revoltam-se, perdem o amor à vida, sentem-se frustrados, questionam o porquê de não conseguir atingir o que os outros atingiram. Sem nunca questionar que provavelmente não tinham aptidões para tal ramo...Apenas foram uns infelizes que se deixaram apanhar na onda do "tu um dia tens de ser isto"...
     O sistema académico encontra-se excessivamente organizado, institucionalizado e preocupado com a transmissibilidade unificada de conhecimento. Essas atitudes limitam a formação de pensadores. As grandes ideias surgiram a partir do caos intelectual. Todos os que contribuíram para a expansão da ciência e das ideias humanistas romperam com os paradigmas intelectuais. Experimentaram motins intelectuais, despejaram sem receios a sua tralha intelectual.
Vejo que as sociedades modernas são mudas... Há uma imensa falta de troca de experiências existências e de cooperação mutua... Parece que ajudar um desconhecido ou falar para um desconhecido é um crime aos olhos de quem passa na rua... Um mendigo estabelece mais facilmente uma relação interpessoal afectiva, pois não tem preconceitos socioculturais, não precisa de ostentar um status social ou provar o quer que seja alguém.         Achamos-nos muito inteligentes e cultos mas a ignorância é a mãe do preconceito e atualmente vivemos impregnados no preconceito...
   Vejo essas pessoas que ainda perdem muito da vida porque deixam que algumas moedas de ouro lhes criem uma cegueira nefasta, que as afasta do verdadeiro significado da vida e do seu trabalho... Olhem para eles, só querem subir ao palco para serem aplaudidos, mas poucos querem ensaiar... São artistas de fim-de-semana e autoproclamam-se de deuses, devido ao seu sucesso a curto prazo. Os jovens que se estão a lançar no mercado de trabalho esperam ter nesse mercado uma continuação das suas casas, onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente que tudo lhe concederia…
   A melancolia começa a invadir almas e corações e as pessoas questionam-se porquê? Bem, aparentemente estamos a tornar-nos num curto-circuito fechado que se auto perpetua mutuamente... E parece que não vamos acordar tão cedo. Estamos mergulhados na nossa insignificância.

domingo, 12 de maio de 2013

Wannabe star

    Hoje encontro-me a escrever no meu camarim aveludado, retro com adornos como um crocodilo, uma metralhadora (para o caso de haver algum incidente com o crocodilo) dois bodes para abater, botas á prova de fogo, uma sopa vegetariana, uma tômbola, um ovo de um aviário e uma bela garrafa do vinho torre e ferro do Dão. Se calhar é um bocadinho extravagante, se calhar é um bocadinho hipster… mas não deixa de ser um bom ponto de partida para me tornar numa estrela em ascensão irreverente, agora ando a ver se invisto numa figura exótica e camaleónica para completar a indumentária e juntar-me a um possível paradigma freak, weird, transformar-me num snob, arrogante e usar palavras que nem toda a gente entende e assim conseguir reunir um conjunto de fãs que me garantam um culto ímpar cada vez que me aventurar por terras lusas. Esta é a minha filosofia de trabalho primeiro coloco o sucesso como objetivo só depois procuro a minha epifania e manifesto-me criativamente.  
  Mas existe toda uma receita para ser uma estrela nomeadamente na música que é um mundo que ao que me parece dá algum dinheiro e eu gosto da forma relaxada como vivem os artistas musicais. Primeiro, tenho de ter alguns problemas na vida, andar por aí a bater com a cabeça, acabar mal relações, ser reprimido pela sociedade, criar um lado negro para depois ter algumas temáticas com que me possa inspirar e dar o testemunho na primeira pessoa. Por isso, nestes últimos tempos tenho andado à procura de problemas... tenho andado em busca de emoções e de algumas anfetaminas, para começar mitigar as agruras da vida com ajuda de umas doses de químicos. Queria ver se me lançava o mais rapidamente no mundo artístico… Sinto uma ânsia de fama, queria ser intitulado de Deus, queria sentir aquilo que é ter pessoas ajoelhadas a meus pés e queria atuar nos festivais, porque a-d-o-r-o o ambiente “teen friendly”.
  Até aqui, as coisas até estão bem encaminhadas e definidas mas agora vem a parte difícil, em segundo lugar, tenho de criar uma cultura ou juntar-me a uma. Criar uma cultura dá muito trabalho e exige muito de mim, por isso vou eliminar a primeira opção. Em relação à segunda já pensei enveredar pela subcultura britânica “mod”, mas eu prefiro Beatles a Rolling Stones então acaba por ser inviável. Indie ou mainstream? Isso também acaba por se tornar irrelevante porque esse é um conceito muito ligado ao rock e eu queria alguma coisa mais singular e menos cliché que o “ Rock star”. Pop/rock também não, porque passa nas rádios e as rádios aborrecem-me. Minimalismo psicadélico é demasiado melancólico, dá trabalho e é preciso criatividade para ser  abstrato. Grunge usa roupas giras mas é demasiado desleixado, angustiante e apático… e eu queria -me divertir. Punk é muito agressivo e marginal. Rap e hip-hop podem-me tornar num delinquente e eu queria ser bem visto aos olhos da sociedade. Blues é giro, mas eu não tenho qualquer relação com o estado do Mississippi e dá muito trabalho competir com o Eric Clapton. Ópera é preciso ter umas cordas vocais de extraterrestre. Reggae é boa onda, mas primeiro tinha de começar a ter umas aulas de surf  e eu não tenho tempo agora. Metal é bom, mas barba e cabelo comprido fazem-me comichão. Fado é triste. Música Popular portuguesa também não me parece uma escolha acertada porque não sou apologista do deolindismo pré-histórico.  
   Acho que acabo de chegar a uma conclusão. Isto de ser uma estrela é realmente exaustivo, dá muito trabalho... Eu não tenho muito conteúdo musical, também na minha vida não existem grandes problemas, como até gosto da sociedade, do funcionamento do sistema e preciso de fama rápida, fácil, barata e que me dê muito caché. Acho que a melhor solução é mesmo tornar-me um rival do Bieber e dos One direction… Não deve ser muito difícil, até sou minimamente bem-parecido, agora arranjo uns bons filtros para a minha horrenda voz e umas letras que envolva maquilhagens, babes, cabelos, e versos completamente profundos como “oh oh baby i follow you”.
  Está decidido a partir de hoje vou ser o“ Justino Castor”, o jovem que vai partir corações, o jovem que vai estar tatuado nos corpos, o jovem que vai criar uma religião com milhões de seguidoras, o jovem que vai ser multimilionário, o jovem que vai viver um sonho, "O DEUS"…

terça-feira, 7 de maio de 2013

The XX Lisboa Night + Day


 Foi já no dia 5 de Maio, mas como eu sofro um bocado de preguiça, só agora é que escrevi o testemunho.

 Acabados de editar o álbum “coexist”, The XX orgulham-se de apresentar o "Lisbon Night and Day", o maior e mais ambicioso evento criado pela banda até à data. Lisboa foi a primeira das três cidades anfitriãs do festival, segue-se Berlim e Osterley park, junto a Londres. O Jardim da Torre de Belém foi o local eleito para a ocasião «We searched high and low for a unique and beautiful locations» e realmente o trio Britânico não podia ter escolhido melhor, o rio tejo como pano de fundo e a Torre de Belém a estabelecer o limite entre terra e mar tornaram-se adornos essenciais na calorosa tarde de Maio. Estavam reunidas as condições para ser um Festival memorável, agora faltava as performances culminarem com a paisagem.
   O conceito era simples, o já clássico recinto de Festival, com zona de restauração, casa de banho e dois palcos. A banda procurou convidar para o festival artistas que a banda respeita e admira “The XX e amigos” e não podia ser mais verdade, pois quem ouviu atentamente a atuação de John Talabot e Chromatics facilmente percebeu que são bandas muito próximas dos The XX, como se de parentes se tratassem. A comitiva Lusa também esteve presente: Kalaf, e os Paus que, depois da experiencia no Alive, voltaram animar com a sua máquina rítmica o Sunset, cortando o pouco o ambiente “XXiano” que pairava em Belém. No palco principal atuaram nomes como “Mount Kimbie”, “John Talabot”, “Chromatics” e os anfitriões “The XX”. Estes concertos no palco principal iam alterando com sessões de mixagem no DJ Stand, “tempos mortos” foi algo que não existiu no Festival, um coreto localizado no centro do recinto com Dj´s Set onde passaram nomes como: Xinobi, Jamie XX – o homem sombra dos The XX ou Kim ann foxman – uma DJ Nova-iorquina que já contracenou com os Hercules & Love Affair. Com o cair da noite a paisagem ia se desvanecendo e ia dando lugar ao obscuro, introspectivo e à magia negra que se começava a fazer sentir no palco principal.
  Mount Kimbie, o duo britânico composto por Dominic Maker e Kai Campos, apresentaram a sua imponente electrónica. Fazendo do palco um autêntico laboratório. Uma música repleta de paradoxos e mudanças abruptas. Seguiu-se o espanhol John Talabot, acompanhado pelo conterrâneo Pional, foi responsável por uma tremenda sessão de house a céu aberto. Com a característica percussão digital e um festival de vozes que transformaram algumas faixas em auntenticos hinos pop, e outras em cantos tribais. Chromatics atuaram sensivelmente pelas 21h uma atuação que se centrou no recente trabalho “Kill for Love”, um som muito dado à introspecção e ao obscuro.
  Finalmente chegaram ao palco os tão aguardados The XX, ofereceram aos fãs um concerto assombroso e arrepiante, auxiliados por uma qualidade de som digna de 5 estrelas. Depois de um primeiro disco onde o minimalismo foi levado ao limite, “coexist” abria a janela para um mundo mais ritmado e dançante, durante o concerto houve momentos verdadeiramente dançáveis. Atiraram-se com os temas «Heart skipped a Beat» e « Crystalized», recheados de minimalismo e profundidade. Foi nas músicas mais antigas que as ovações mais se fizeram ouvir. «Shelter» foi vítima de improvisações, de ataques inconscientes por parte da Romy, Oliver e Jamie, fazendo nascer sons e ritmos do silêncio. O encore contou com o «Intro» e «Angels» investidos de energia e robustez. Romy croft e Oliver Sim echem o palco de negro enquanto, que Jamie Smith ou Jamie XX – lá do seu altar de percussão vai enchendo os sons provenientes de uma magnetizante guitarra e do corpulento baixo com o seu ritmo, marcando cada compasso. O som dos The XX era acompanhado por um jogo de luzes, tornando-se numa perfeita harmonia de som e luz ombreando com a aurora boreal. Os agradecimentos e palavras de carinho ao público foram uma constante: “há mais de um ano a tentar fazer isto acontecer… Um sonho tornado realidade”. Parece que Romy perdeu o medo de cantar e Jamie está cada vez mais habilidoso na sua maquinaria, havendo mesmo uma fusão entre o homem, a máquina e o ritmo. Foi num cenário já nostálgico e escuro que The XX abandonaram o palco, deixando nos rostos dos fãs um sentimento de satisfação.
  Para os mais resistentes ainda houve tempo para curtir o resto da noite ao som de James Murphy, o antigo mentor dos LCD Sound System. Enquanto outros abandonavam o recinto e aguardavam impacientemente um táxi.

 E foi assim que terminou o Night and Day em Lisboa, esperamos uma réplica para breve.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

"Avidez" que é como quem diz, Ambição


  O leitor conhece aquele tipo de pessoas que só está bem a dizer mal do nosso país? Essa gente tem um nome, como sabe: chamam-se «portugueses». Este tema daria pano para mangas, mas hoje não me apetece abordá-lo… queria algo mais ambicioso, mas para abordar algo mais ambicioso primeiramente tenho de ser conhecedor do que é a ambição. Portanto permitam-me ter uma profunda incúria sobre ambição.

   A ambição é algo capaz de gerar sonhos, capaz de gerar realidades… capaz de transformar sonhos em realidades. As pessoas ambiciosas têm frequentemente uma visão mais nobre do que talvez possam alcançar. Existe o preconceito comum de que as pessoas ambiciosas são motivadas pelo desejo de ultrapassar os seus pares, de serem melhores do que toda a gente. Na realidade, o que motiva a maior parte das pessoas ambiciosas é o desejo de evoluir-se e de pertencer algum grupo, movimento ou clube exclusivo.
   A ambição é uma ferramenta indispensável para quem quer atingir o progresso e o sucesso.
  Vejamos um caso prático, um estudo realizado por um indivíduo, Gary McPherson em 1977. Ele seleccionou 157 crianças aleatoriamente enquanto escolhiam um instrumento musical e aprendiam a tocá-lo. Algumas delas tornaram-se bons músicos e outras fracassaram. McPherson investigou, então, os traços de cada um para saber a que se devia o progresso de uns e o fracasso de outros. O QI não se revelou um bom indicador. Nem a sensibilidade auditiva, as aptidões para a Matemática, o nível de rendimento ou o sentido de ritmo. O melhor indicador era uma pergunta que McPherson fizera aos alunos antes de optarem por um instrumento: «Quanto tempo julgas que vais tocar» Os alunos que responderam que tocariam durante pouco tempo nunca se tornaram proficientes. As crianças que planeavam tocar durante alguns anos tiveram sucesso modesto. Mas algumas crianças responderam: «Quero ser músico. Vou tocar a vida toda».  Estas crianças triunfaram e tornaram-se em grandes músicos. O sentido de identidade, ambição que as crianças traziam para a primeira lição era o rastilho que desencadeava o progresso futuro.
   Existe aquela opinião dominante que os génios já nascem com uma intervenção divina, com um dom sobrenatural. Mas, os génios constroem-se… Temos o exemplo de Mozart intitulado por muitos de génio. As suas primeiras obras não são, argumentam os investigadores, atos de génio. Em tenra idade era um bom músico é verdade, mas não se distinguia entre os melhores intérpretes contemporâneos. O que o Mozart tinha era algo chamado: Ambição e um anseio por melhorar as suas capacidades, que posteriormente com infinitas horas de treino e prática fizeram com que se torna-se num génio, em alguém que se diferenciava dos meros mortais.
   As pessoas com alto desempenho gastam horas a aperfeiçoar metodicamente o seu trabalho. O fator-chave que separa os génios dos bem-sucedidos não é a inspiração divina, mas sim a capacidade e ambição para se tornarem cada vez melhores ao longo da vida.