Sejam bem-vindos de volta, é possível que o leitor, com a
leviandade que o caracteriza, esteja a pensar: porque raio ele decidiu fazer
outro post relacionado com o sistema financeiro e bancário? Pois bem, quando
estava em pleno momento de introspecção, inspirado pelo solilóquio do Hamlet “
to be or not be” lembrei que talvez fosse melhor deixar o meu egocentrismo de
lado e pensar mais nos problemas do mundo.
Este post faz todo o sentido, de modo, a fazer a
continuação do “Banquete de Banqueiros”. Hoje vou tentar abordar outras problemáticas
que não foram abordadas no post anterior, funcionando como um complemento e uma
possível resposta aos comentários do “Banquete de Banqueiros I”.
Cada vez mais, as pessoas queixam-se da crise, queixam-se
dos bancos, queixam-se da quantidade de empréstimos realizados há anos
anteriores e mais outras queixas que nunca mais acabam… O que não fazem ideia é
que todo este sistema de funcionamento não ocorre por mero acaso. Denomina-se “Ciclo
de negócios” e há séculos que está em funcionamento.
Vou fazer uma analogia com uma pescaria, apenas para
simplificar a compreensão do ciclo provocado pelas Instituições financeiras. Em
primeiro lugar lançamos a linha de pesca: primeira fase, coloca-se muito
dinheiro, unidades de câmbio, em circulação. Fazem isso, baixando as taxas de
juros e fazendo muitos empréstimos. Esta é a parte do ciclo a qual designa-se “Boom”.
Como há muitas unidades de câmbio em circulação, muito dinheiro passando de mão
em mão, gera-se muita actividade económica, gera-se empregos e quanto maior é a
quantidade de dinheiro gasto, maior é a demanda, então as empresas pegam em
mais dinheiro novinho emprestado para aumentar a sua produção. As pessoas ficam
confiantes com a sua vida quotidiana, dizendo “hey, eu trabalho para aquela
empresa, tenho muitas ordens, o meu trabalho é seguro, logo vou comprar uma
casa maior.
Então, eles começam a mudar as coisas. Neste momento começam
a enrolar o carretel da linha. Aumentam as taxas de juros, então poucas pessoas
estão a pedir dinheiro emprestado, e pensam duas vezes antes de pedir um
empréstimo maior. E também, agora que as taxas de juros subiram, grandes partes
das finanças pessoais serão utilizadas para pagar altos juros de dívidas, o que
faz com que deixem de comprar coisas. De repente, já não há dinheiro em
circulação e menos coisas são compradas. As empresas começam a reduzir os seus
ganhos, iniciam o despedimento de funcionários e abandonam negócios. As pessoas
perdem os seus empregos, não podem pagar a hipoteca da sua casa nova, que
haviam comprado no tempo das “ vacas gordas”.
E agora, o que os bancos fazem, é começar a enrolar o
carretel da linha, levando o peixe até a mão do pescador. Quando as empresas e
as pessoas vão à falência, os bancos ficam com a riqueza verdadeira, que são as
propriedades: terras, casas, recursos, tudo aquilo que as pessoas conseguiram
comprar apenas por possuírem dígitos num ecrã e baseando-se na confiança do
mercado. Como já tinha referido, este ciclo tem acontecido por muitos séculos e
o que se tem feito? É roubar e acumular é a dura realidade. Isto não é de modo
nenhum uma teoria conspiratória ou um post de um activista. A verdadeira
riqueza do mundo, está na mão de poucos. As provas estão a vista de todos nós:
o colapso financeiro de 2008 foi o resultado de inflações e deflações
orquestrado, criado e executado pelos grandes banqueiros para consolidar a sua
riqueza e poder. Antes da grande crise de 1929 a elite de banqueiros sacaram
todo o dinheiro do mercado de acções. Depois da quebra do mercado, eles usaram
esse dinheiro para comprar acções baratas e bancos falidos por míseros dólares.
Talvez Portugal na
altura em que o ciclo estava em pleno “Boom” deveria ter realizado
investimentos racionais, como criação de boas indústrias de modo aproveitar os
nossos recursos e aumentar as exportações, seguindo as leis exemplares do Rei
D. Dinis, de construir no presente um futuro melhor e racional. Ao invés de usar o dinheiro irresponsavelmente
em concessões, projectos de tgv´s, projectos de aeroportos etc. Que por esta
altura têm um rendimento baixíssimo e um fracasso descomunal. Por vezes ponho
me a olhar para o estado de Portugal e da Europa, como Charles Manson olha para
palácios.
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