domingo, 3 de fevereiro de 2013

Bebés e cafés

  Este post começa como uma história cinematográfica. Estava eu sentado numa esplanada, fim do dia, gozando um bom bocado com os meus amigos. Contudo a conversa não estava a ser muito interessante, então desviei subtilmente a minha atenção para algo que me estava realmente a intrigar, aquele clássico bebé que está a chorar e a seu lado está uma mãe que o ignora enquanto desfruta do seu cigarro. Este foi o ponto de partida, para me desligar de tudo o que estava acontecer e mergulhar nos meus profundos e fascinantes pensamentos.
   Então comecei por pensar, por vezes não temos noção do quanto a relação entre uma criança e a sua mãe – ou tutor principal – irá moldar fortemente o modo como a criança se verá a si própria e ao mundo. O facto de existir pessoas com falta de confiança social, predisposições para a irritabilidade ou mesmo problemas de diálogo com outrem, podem advir destes episódios “mínimos” que passam na nossa infância. Imaginemos, um bebé nasce com características inatas, como a irritabilidade. Mas tem a sorte de ter uma mãe que consegue ler os seus humores, que o abraça quando quer ser abraçado e o pousa quando quer ser pousado; que o estimula quando quer ser estimulado e mantém a distância quando quer tranquilidade. Esse bebé aprende que é uma criatura que existe em diálogo com outras e acaba por ver o mundo como uma série de diálogos coerentes. Aprende também que, se enviar sinais, eles serão provavelmente captados.
  As crianças nascidas em ambiente de relações sintonizadas aprendem a estabelecer conversações com pessoas novas e sabem ler os sinais sociais. Na escola, sabem como usar os professores e outros adultos para serem bem-sucedidas. Não se sentem compelidas a colar-se aos professores e a estar juntos deles o tempo todo, dando a chamada “graxa”, mas também não se mantém muito afastadas. Tendem também a ser mais sinceras ao longo da vida por sentirem menos necessidade de se sobrevalorizar aos olhos dos outros. Já as outras que nascem num ambiente de relações ameaçadoras podem tornar-se receosas, ensimesmadas e agressivas. É frequente sentirem ameaças onde elas não existem. Isto porque usualmente uma pessoa só é agressiva porque se sente ameaçada. Posteriormente ainda podem ser vítimas de mais stress emocional.    
 Estas crianças possuem o chamado “apego evitativo” tiveram pais emocionalmente distantes e psicologicamente indisponíveis, que não comunicam bem com os filhos ou estabelecem ligações emocionais. Dizem o que devem dizer, mas as palavras não são acompanhadas por gestos físicos que comuniquem afeição. Em resposta os filhos desenvolvem um modelo interior de funcionamento em que concluem que têm de bastar a si mesmo. Aprendem a não confiar nos outros e a distanciar-se por precaução. Quando os pais conseguem criar uma sintonia com os filhos, um fluxo de oxitocina  inunda-lhes o cérebro, que por sinal, é a mesma hormona expelida durante um orgasmo, ou seja, flui quando se experimentam relações sociais íntimas dando-nos uma sensação de contentamento e realização. Por outras palavras, a oxitocina é maneira de a natureza estreitar os laços entre as pessoas. 
 Como se não bastasse isto afectará a nossa vida futura, um adulto com apego evitativo tende a não recordar grande coisa da respectiva infância. Podem descrever com generalidade, mas poucas coisas houve emocionalmente poderosas para se incrustarem na memória. Muitas vezes, têm dificuldade em estabelecer compromissos íntimos. Podem ser excelentes na discussão lógica, mas reagem com profundo desconforto quando a conversa aborda as emoções, ou quando convidado a revelar-se. Sentem-se mais a vontade e seguros sós. Segundo um estudo realizado por Pascal Vrticka, da Universidade de Genebra, os adultos com apego evitativo, têm três vezes mais probabilidade de estarem sós ao atingirem os 70 anos. Com todo este episódio, não quero apelar as Mães leitoras que sejam umas “Mães galinhas”. Como o psicólogo britânico John Bowlby argumentou, para que alguém se desenvolva perfeitamente é necessário sentir amado, mas também necessita de ver o mundo e tomar conta de si próprio. Toda esta profunda reflexão passou me pela cabeça ao olhar para aquele “infeliz” bebé, e sim os meus amigos desconfiam que eu sofro de autismo.

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