domingo, 12 de maio de 2013

Wannabe star

    Hoje encontro-me a escrever no meu camarim aveludado, retro com adornos como um crocodilo, uma metralhadora (para o caso de haver algum incidente com o crocodilo) dois bodes para abater, botas á prova de fogo, uma sopa vegetariana, uma tômbola, um ovo de um aviário e uma bela garrafa do vinho torre e ferro do Dão. Se calhar é um bocadinho extravagante, se calhar é um bocadinho hipster… mas não deixa de ser um bom ponto de partida para me tornar numa estrela em ascensão irreverente, agora ando a ver se invisto numa figura exótica e camaleónica para completar a indumentária e juntar-me a um possível paradigma freak, weird, transformar-me num snob, arrogante e usar palavras que nem toda a gente entende e assim conseguir reunir um conjunto de fãs que me garantam um culto ímpar cada vez que me aventurar por terras lusas. Esta é a minha filosofia de trabalho primeiro coloco o sucesso como objetivo só depois procuro a minha epifania e manifesto-me criativamente.  
  Mas existe toda uma receita para ser uma estrela nomeadamente na música que é um mundo que ao que me parece dá algum dinheiro e eu gosto da forma relaxada como vivem os artistas musicais. Primeiro, tenho de ter alguns problemas na vida, andar por aí a bater com a cabeça, acabar mal relações, ser reprimido pela sociedade, criar um lado negro para depois ter algumas temáticas com que me possa inspirar e dar o testemunho na primeira pessoa. Por isso, nestes últimos tempos tenho andado à procura de problemas... tenho andado em busca de emoções e de algumas anfetaminas, para começar mitigar as agruras da vida com ajuda de umas doses de químicos. Queria ver se me lançava o mais rapidamente no mundo artístico… Sinto uma ânsia de fama, queria ser intitulado de Deus, queria sentir aquilo que é ter pessoas ajoelhadas a meus pés e queria atuar nos festivais, porque a-d-o-r-o o ambiente “teen friendly”.
  Até aqui, as coisas até estão bem encaminhadas e definidas mas agora vem a parte difícil, em segundo lugar, tenho de criar uma cultura ou juntar-me a uma. Criar uma cultura dá muito trabalho e exige muito de mim, por isso vou eliminar a primeira opção. Em relação à segunda já pensei enveredar pela subcultura britânica “mod”, mas eu prefiro Beatles a Rolling Stones então acaba por ser inviável. Indie ou mainstream? Isso também acaba por se tornar irrelevante porque esse é um conceito muito ligado ao rock e eu queria alguma coisa mais singular e menos cliché que o “ Rock star”. Pop/rock também não, porque passa nas rádios e as rádios aborrecem-me. Minimalismo psicadélico é demasiado melancólico, dá trabalho e é preciso criatividade para ser  abstrato. Grunge usa roupas giras mas é demasiado desleixado, angustiante e apático… e eu queria -me divertir. Punk é muito agressivo e marginal. Rap e hip-hop podem-me tornar num delinquente e eu queria ser bem visto aos olhos da sociedade. Blues é giro, mas eu não tenho qualquer relação com o estado do Mississippi e dá muito trabalho competir com o Eric Clapton. Ópera é preciso ter umas cordas vocais de extraterrestre. Reggae é boa onda, mas primeiro tinha de começar a ter umas aulas de surf  e eu não tenho tempo agora. Metal é bom, mas barba e cabelo comprido fazem-me comichão. Fado é triste. Música Popular portuguesa também não me parece uma escolha acertada porque não sou apologista do deolindismo pré-histórico.  
   Acho que acabo de chegar a uma conclusão. Isto de ser uma estrela é realmente exaustivo, dá muito trabalho... Eu não tenho muito conteúdo musical, também na minha vida não existem grandes problemas, como até gosto da sociedade, do funcionamento do sistema e preciso de fama rápida, fácil, barata e que me dê muito caché. Acho que a melhor solução é mesmo tornar-me um rival do Bieber e dos One direction… Não deve ser muito difícil, até sou minimamente bem-parecido, agora arranjo uns bons filtros para a minha horrenda voz e umas letras que envolva maquilhagens, babes, cabelos, e versos completamente profundos como “oh oh baby i follow you”.
  Está decidido a partir de hoje vou ser o“ Justino Castor”, o jovem que vai partir corações, o jovem que vai estar tatuado nos corpos, o jovem que vai criar uma religião com milhões de seguidoras, o jovem que vai ser multimilionário, o jovem que vai viver um sonho, "O DEUS"…

Sem comentários:

Enviar um comentário