Hoje encontro-me a escrever no meu camarim aveludado, retro com adornos
como um crocodilo, uma metralhadora (para o caso de haver algum incidente com o
crocodilo) dois bodes para abater, botas á prova de fogo, uma sopa vegetariana,
uma tômbola, um ovo de um aviário e uma bela garrafa do vinho torre e ferro do
Dão. Se calhar é um bocadinho extravagante, se calhar é um bocadinho hipster…
mas não deixa de ser um bom ponto de partida para me tornar numa estrela em ascensão
irreverente, agora ando a ver se invisto numa figura exótica e camaleónica para
completar a indumentária e juntar-me a um possível paradigma freak, weird,
transformar-me num snob, arrogante e usar palavras que nem toda a gente entende
e assim conseguir reunir um conjunto de fãs que me garantam um culto ímpar cada
vez que me aventurar por terras lusas. Esta é a minha filosofia de trabalho
primeiro coloco o sucesso como objetivo só depois procuro a minha epifania e
manifesto-me criativamente.
Mas existe toda uma receita para ser uma estrela nomeadamente na música
que é um mundo que ao que me parece dá algum dinheiro e eu gosto da forma relaxada
como vivem os artistas musicais. Primeiro, tenho de ter alguns problemas na
vida, andar por aí a bater com a cabeça, acabar mal relações, ser reprimido pela
sociedade, criar um lado negro para depois ter algumas temáticas com que me
possa inspirar e dar o testemunho na primeira pessoa. Por isso, nestes últimos
tempos tenho andado à procura de problemas... tenho andado em busca de emoções e de algumas
anfetaminas, para começar mitigar as agruras da vida com ajuda de umas doses de
químicos. Queria ver se me lançava o mais rapidamente no mundo artístico… Sinto
uma ânsia de fama, queria ser intitulado de Deus, queria sentir aquilo que é
ter pessoas ajoelhadas a meus pés e queria atuar nos festivais, porque
a-d-o-r-o o ambiente “teen friendly”.
Até aqui, as coisas até estão bem
encaminhadas e definidas mas agora vem a parte difícil, em segundo lugar, tenho
de criar uma cultura ou juntar-me a uma. Criar uma cultura dá muito trabalho e
exige muito de mim, por isso vou eliminar a primeira opção. Em relação à
segunda já pensei enveredar pela subcultura britânica “mod”, mas eu prefiro
Beatles a Rolling Stones então acaba por ser inviável. Indie ou mainstream?
Isso também acaba por se tornar irrelevante porque esse é um conceito muito
ligado ao rock e eu queria alguma coisa mais singular e menos cliché que o “
Rock star”. Pop/rock também não, porque passa nas rádios e as rádios
aborrecem-me. Minimalismo psicadélico é demasiado melancólico, dá trabalho e é
preciso criatividade para ser abstrato.
Grunge usa roupas giras mas é demasiado desleixado, angustiante e apático… e eu
queria -me divertir. Punk é muito agressivo e marginal. Rap e hip-hop podem-me
tornar num delinquente e eu queria ser bem visto aos olhos da sociedade. Blues
é giro, mas eu não tenho qualquer relação com o estado do Mississippi e dá muito trabalho competir
com o Eric Clapton. Ópera é preciso ter umas cordas vocais de extraterrestre.
Reggae é boa onda, mas primeiro tinha de começar a ter umas aulas de surf e eu não tenho tempo agora. Metal é bom, mas
barba e cabelo comprido fazem-me comichão. Fado é triste. Música Popular
portuguesa também não me parece uma escolha acertada porque não sou apologista do
deolindismo pré-histórico.
Acho que acabo de chegar a uma conclusão. Isto de ser uma estrela é
realmente exaustivo, dá muito trabalho... Eu não tenho muito conteúdo
musical, também na minha vida não existem grandes problemas, como até gosto da sociedade, do
funcionamento do sistema e preciso de fama rápida, fácil, barata e que me dê
muito caché. Acho que a melhor solução é mesmo tornar-me um rival do Bieber e dos One
direction… Não deve ser muito difícil, até sou minimamente bem-parecido, agora arranjo
uns bons filtros para a minha horrenda voz e umas letras que envolva maquilhagens,
babes, cabelos, e versos completamente profundos como “oh oh baby i follow you”.
Está decidido a partir de hoje vou ser o“ Justino Castor”, o jovem que
vai partir corações, o jovem que vai estar tatuado nos corpos, o jovem que vai
criar uma religião com milhões de seguidoras, o jovem que vai ser
multimilionário, o jovem que vai viver um sonho, "O DEUS"…
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