“Olá, como estão? Bem, obrigado.” Em sociedade sempre se
está bem. Nesse fugaz intercâmbio de frases breves que são cumprimentos, quase
ninguém está realmente interessado em saber como realmente se encontra. É uma
atitude que, sendo em geral sensata e justificada, resvala com frequência para
o traconismo.
Por vezes surge me estes pensamentos e quando os partilho
acabo por ser vaiado, eu e as pessoas que estão comigo. São vaiadas por
afinidade, digamos assim.
Portanto, procuro uma fuga na escrita. Assumo um papel de melancólico, egocêntrico e ponho-me a caminhar dentro de mim mesmo e a expandir o mundo das minhas ideias. Vou partilhar aqui um desses momentos.
Escrever… É um torpor horroroso, onde ofuscas a tua dor nas
palavras, encerras os teus olhos com lágrimas, sentes cãibras no teu estômago,
o teu nariz escorre, o teu corpo treme. É como ter um emprego das nove às cinco
mas as horas tendem a ser mais sombrias e sagazes. É saber que a tua face não passa
de uma imagem esguia e trivial, estilo simiesco e o teu cabelo é apenas malhas
negras sobre o escalpe. Sentes uma grande onda de calor através do corpo,
sentes-te como uma estrela de rock, em que os teus pensamentos transformam em
bocadinhos loucos, de livre vontade. E, de súbito, és capaz de tudo. A tua alma
desprende-se do teu corpo e no final sentes-te atordoado como se saísses de um
filme de quatro horas, que não compreenderas...
Lá fora chove… Chuva, esse bem precioso que parece ficar nas
árvores. É bom que haja chuva, limpa o mês, as tuas expressões lamentosas,
hipócritas e fúteis. E limpa as ruas de exércitos silenciosos. Abrindo caminho
para tu seres livre, para dançar, seres tu mesmo… Até que a dor comece a
latejar, como se a melancolia, se apagasse num ímpeto avoado. Um sonho que se
esvanece assim que o dia nasce e retomas à tua vida…
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