quarta-feira, 6 de março de 2013

Corresponder-se


 “Olá, como estão? Bem, obrigado.” Em sociedade sempre se está bem. Nesse fugaz intercâmbio de frases breves que são cumprimentos, quase ninguém está realmente interessado em saber como realmente se encontra. É uma atitude que, sendo em geral sensata e justificada, resvala com frequência para o traconismo.

  Por vezes surge me estes pensamentos e quando os partilho acabo por ser vaiado, eu e as pessoas que estão comigo. São vaiadas por afinidade, digamos assim.
  Portanto, procuro uma fuga na escrita. Assumo um papel de melancólico, egocêntrico e ponho-me a caminhar dentro de mim mesmo e a expandir o mundo das minhas ideias. Vou partilhar aqui um desses momentos.

  Escrever… É um torpor horroroso, onde ofuscas a tua dor nas palavras, encerras os teus olhos com lágrimas, sentes cãibras no teu estômago, o teu nariz escorre, o teu corpo treme. É como ter um emprego das nove às cinco mas as horas tendem a ser mais sombrias e sagazes. É saber que a tua face não passa de uma imagem esguia e trivial, estilo simiesco e o teu cabelo é apenas malhas negras sobre o escalpe. Sentes uma grande onda de calor através do corpo, sentes-te como uma estrela de rock, em que os teus pensamentos transformam em bocadinhos loucos, de livre vontade. E, de súbito, és capaz de tudo. A tua alma desprende-se do teu corpo e no final sentes-te atordoado como se saísses de um filme de quatro horas, que não compreenderas...
  Lá fora chove… Chuva, esse bem precioso que parece ficar nas árvores. É bom que haja chuva, limpa o mês, as tuas expressões lamentosas, hipócritas e fúteis. E limpa as ruas de exércitos silenciosos. Abrindo caminho para tu seres livre, para dançar, seres tu mesmo… Até que a dor comece a latejar, como se a melancolia, se apagasse num ímpeto avoado. Um sonho que se esvanece assim que o dia nasce e retomas à tua vida…

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