"Carlos Miranda era filho de um ourives. Vírgula, ele próprio o era!"
Olá amigos!
Provavelmente conhecem-me da têvê, por ter aparecido na têvê i a dançar ao som de Quim Barreiros há cerca de dez anos no Jardim Zoológico. Ou quando apareci na érre têpê dois, a jogar ténis numa iniciativa do Desporto Escolar, isto há cerca de cinco anos. Talvez me conheçam por ter feito um poema para o jornal da minha terra acerca da Natividade. Também há a hipótese de não me conhecerem que, convenhamos, é a mais provável.
Já disseram que sou um gajo inteligente. Há quem diga que sou um gajo fixe, cerca de uma mão-cheia de pessoas. A minha mãe diz-me que eu sou bonito. Por isso presumo que a minha existência tenha algum efeito na vida das pessoas. Ou não. Estes factos não corroboram nada. Embora pense que influencie tanto as pessoas como elas me influenciam a mim. Mas isso fica para outra publicação. Ou não. Prosseguindo.
Convidaram-me para escrever nesta plataforma não sei bem porquê, já que a minha escrita é um bocado parva visto que tenho demasiados apartes, faço frases demasiado compridas e faço comparações que não têm nada a ver. Tipo o Segurado. Vá, esta teve. Só aceitei escrever aqui porque estou aborrecido. Estou frequentemente aborrecido.
Mas é quando viajo de comboio que fico francamente aborrecido. É que eu estudo em Lisboa e vou para casa quase todos os fins-de-semana. E aquela hora e meia de viagem parece quase uma hora e quarenta e cinco minutos. Vá, nas primeiras vezes era giro, apreciar a paisagem que se formava ao longo da viagem, a evolução, a passagem de plantações de uma coisa que eu não sei o que é para outra coisa que também não sei o que é, intercaladas por uma indústria de alguma outra coisa.
Depois apercebi-me que podia olhar para o outro lado do comboio e que havia uma outra paisagem, mais ou menos semelhante à anterior. Depois lembrei-me de olhar para as pessoas que viajavam comigo. As raparigas histéricas que voltavam da faculdade e discutiam quem ficou mais fodida (e quem foi mais fodida) na noite anterior. Casais de velhinhos que provavelmente foram fazer alguma análise importante à capital, porque não há meios para essas análises nas suas terrinhas. Ou só pessoas de meia-idade que dormiam, olhavam para a paisagem, olhavam para a frente, enquanto ouviam música, olhavam para um livro. Enquanto liam esse mesmo livro. Suponho. É a única coisa que me dá consolo nesta hora e meia, olhar para as pessoas. Nunca são as mesmas. Mesmo sem falar com elas, sem as conhecer. A paisagem, essa, é sempre a mesma. E é só isso que me aborrece: a paisagem ser a mesma.
Quero apanhar um comboio para um sítio qualquer, desde que a paisagem seja diferente. E depois outro. E depois outro. Enquanto ouço Kings of Convenience e Frankie Chavez. E chegar ao fim da viagem a sentir-me feliz com alguma coisa. Bem indefinida. Mas sentir-me feliz.
Devia ter desenvolvido mais este fim, visto que era a ideia principal desta publicação. Bem, que se foda. Sim, isto acabou assim.
[Carlos Miranda]
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